Morre Celio Alzer, sommelier, autor de livros sobre vinhos e gosto musical refinadíssimo.
Por Luciana Fróes
Há 36 anos, quando o consumo e interesse pelo vinho no Rio (na verdade, no país todo) eram ínfimos, Celio Alzer, niteroiense dono de uma voz linda e gosto musical refinadíssimo – comandava um programa musical na Rádio Jornal do Brasil – já era um apaixonado pela bebida. Daí, não precisou muito para se juntar ao Danio Barga, que acabara de abrir a ABS, a Associação Brasileira dos Sommeliers. Fizeram uma boa parceria e nunca mais falar e beber vinho foi o mesmo.
“Desde o começo da ABS, ainda em Copacabana, o Alzer entrou na minha vida. Além de grande amigo, fomos parceiros de viagens, de taças, escrevemos livros juntos. Era um profundo conhecedor. Falava de espumantes como poucos falam. Vai fazer uma falta imensa”, diz Danio Braga.
Alzer era jornalista, sommelier, enólogo, professor e assinou cartas de vinhos dos melhores restaurantes…
“Ele foi um precursor do vinho no Rio. Poucos bebiam e se interessavam pela bebida. Devemos muito a ele”, afirma o especialista em vinhos Paulo Nicolay. “Além disso, amava jazz. Sabia tudo de música boa.”
Desde 1985, Alzer era professor da ABS, associação que presidiu em 1992 e 1994. Na mesma Rádio JB, apresentou o programa “Falando de vinhos”, ao lado do Danio Braga. E “Adega”, na Rádio SulAmérica Paradiso.
Foi consultor de vinhos do Zona Sul entre 2013 e 2016. Também foi consultor e responsável pela carta de vinhos dos restaurantes Bazzar, em Ipanema; Torninha (Niterói); Pátio Havana e Estância Don Juan (Búzios); e Picolino (Cabo Frio); além do Desacato, no Leblon, que ganhou a edição do Comida di Buteco 2019.
Escreveu vários livros fundamentais para iniciantes e amantes do vinho, como “O passo a passo da degustação”, que fez com o Danio Braga (Senac).
“Esse livro é uma aula particular”, ressalta o jornalista Pedro Mello e Souza. “Se o Celio Alzer estivesse na degustação, já daria um jeito de me sentar perto dele. De preferência, do lado, quando ele, alto e aprumado que era, dava uma ligeira inclinada pra soprar algum achado de cocheira sobre o vinho da prova, com a voz já sorridente. Depois da prova, vinha uma aula de “causos”, de culturinhas, datas, adágios e ditados, que transformavam o evento formal em um encontro didático e divertidíssimo. Brincadeiras à parte, vinha a análise sobre o vinho. Precisa, objetiva, definitiva, era mais do que a noção de quem tinha a visão – era o diagnóstico de quem tinha uma supervisão. Nesse ponto, o humor podia cair e, com uma franqueza única no mundo das críticas de vinhos, identificava erros nos vinhos sem medo do embaraço em que o produtor se encurralava.”
É autor de “Tradição, conhecimentos e prática dos vinhos” (José Olympio), “Falando de vinhos” (Senac) e, o mais recente deles, “Feitos um para o outro” (Maquina de Livros), que não sai da minha sala de jantar: Alzer indica o vinho perfeito para combinar com 1.327 pratos. Genial.
Há duas semanas, Alzer, que tinha 78 anos, infartou, foi fazer cateterismo e pegou Covid-19. Morreu nesta segunda (7), no Hospital São Lucas, em Copacabana, Era pai do jorrnalista Luiz André Alzer e avô de um casal de netos.
Amigos lamentam